Confesso já ter ficado bastante
aborrecido diante dessa situação, mas hoje até que me divirto com a fama.
Pensando bem, não é tão ruim ser taxado de tarja-preta, desde que a alcunha me
permita obter um mínimo de paz e tranquilidade. Pra ser bem sincero, nem me
abalo mais se, por exemplo, algum amigo me pesa a paciência com as
brincadeirinhas que só ele e mais ninguém no mundo acha graça. O que não quero
é que as poucas amizades que tenho não saiam arranhadas por uma eventual
declaração torta, alimentada pela carência de quem - euzinho - não consegue
manter a boca fechada quando se deve.
Afora esses “senões”, não vejo
problema nenhum em conquistar notoriedade por imposição da camisa-de-força.
Para ser bem sincero, eu acho até bom. Gosto de encarar essas experiências do
tempo do pijaminha azul, boas e ruins, como parte integrante da formação do meu
caráter e por que não dizer, da vontade divina. Acredito que o “Grande
Arquiteto” tenha confiado a mim o inglório dom de saber lidar com ela, a
loucura. E se querem saber, a gente se dá muito bem.
Por isso, antes que algum
engraçadinho comece a balangar os beiços e dê o seu parecer inoportuno e
inapropriado ao meu caso sob o ponto-de-vista da psiquiatria, já deixo bem
claro: que vá pra puta - que - pariu. A loucura é minha e ponto final. Não perguntei
nada a ninguém...
Sou louco, mas não sou burro, se é o que você quer saber. O suficiente para
acordar cedo, trabalhar, pagar as minhas contas e não dever nada a ninguém
(este tipo também é chamado por alguns de “malandro”); sou do tipo que ainda acredita
na própria profissão, que lê o mesmo livro inúmeras vezes, que jura de pé junto
que o Brasil ainda vai ser primeiro mundo ou qualquer outro nome que traduza
fielmente este sonhado Status quo. Sou louco de amar a mesma mulher
todos os dias e de, ao lado dela, encarar o mundo de frente.
Isso é bem diferente de ser burro.
Aliás, coitado, justiça seja feita: de burro, o Burro não tem nada. Ser um
quadrúpede das orelhas grandes e outras cositas más não o desabona em nada.
Pelo contrário. Ele deveria se chamar “Louco”, ou qualquer outra coisa. Burro
no sentido orelha-sequiano é outra coisa. E esse, meu nego, nem comer capim
sabe.