Ando com o peito apertado de
saudade. Uma saudade irracional, sem um objeto de afeto que a justifique, ou
que ao menos abra o precedente para a elaboração de uma crônica minimamente
razoável. Na verdade, tem doído tanto que nem pra escrever eu tenho tido ânimo.
Ninguém gosta da dor, isso é fato.
Ainda mais quando ela surge ocasionada por um sentimento débil, sem sustentação
ou ao menos uma causa que a valha. Contudo, é preciso que se faça justiça a
essa madrasta das sensações humanas. Graças à velha senhora este pobre dublê de
cronista pode sair do encapsulamento em que estava enfiado até o talo e subir à
tona pra respirar.
É essa a definição. Respirar. Graças
à dor, pude reavaliar comportamentos, pensamentos e atitudes que me mantinham
em um estado de eterno afogamento. Com tanta coisa acontecendo, acabei por me
esquecer das coisas que realmente me fazem feliz e entrei numas de me procurar
em rostos e corpos alheios. O que vi foi o reflexo deformado de um cara que eu
não conhecia mais.
É. Eu ando com saudade de mim. Mas
não do “eu” que me sabota, versão embotada de Mr. Hide, esse “eu” com uma vida
secreta. Tenho saudade do menino que não tinha medo de ser sincero, afetuoso, e
que acreditava que, com jeito, tudo se resolveria. Sinto saudade de vê-lo com
as canelas ruças e poeirentas impunemente a brincar, como se o mundo inteiro se
resumisse à sua rua.
Esse menino não existe mais...
talvez tenha se cansado de brincar sozinho. Em seu lugar, ficou um homem que
esperneia feito peixe fora d’água, e que sofre porque o mundo que ele conheceu
não lhe serve mais. Este homem que abriu mão dos desejos de menino pra se
transformar em um velho antes do tempo. Um homem perdido entre dois mundos.
Ficou a saudade.
Saudades da gente mesmo, isso dói!
ResponderExcluirTalvez seja o mundo que não o cabe!
ResponderExcluirNão a divisão do saudosismo de outrora.
A roupa ou o sapato apertados são incômodos, né não?!
Talvez seja essa a maior das saudades: a do que já fomos um dia!!!
ResponderExcluirIngênuo esse menino no espelho, mas bonito! Na verdade, o autor não diz porque se gostava mais quando era apenas um menino... Será que ele tá sendo sincero agora, ao escrever sobre sua meninice e dizendo-se um velho antes do tempo? O texto traduz verdades, é certo, dá pra perceber o autor, o homem feito (e exilado? solitário? avesso?), por trás das palavras publicadas, bem, acho que para o bom entendedor meias palavras bastam.
ResponderExcluirGosto do seu estilo, André, belas crônicas...!!
Bondade sua, querido!
ResponderExcluirEste comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluir