É, meu nego, a comunicação entre as
pessoas anda cada vez mais complicada... o que é um verdadeiro paradoxo com
tantos iphones, ipads, Fake truques da Silva e outras traquitanas com a aptidão
inata de se transformarem em lixo tecnológico ao menor piscar de olhos. Mesmo
com toda parafernália disponível é comum observar consultórios apinhados de
gente problemática e incapaz de estabelecer uma relação saudável entre os seus.
Pra resumir: o ser humano tá batendo biela mesmo!
Pois digo com todas as letras que eu,
você, o cabra que tá te devendo aquela grana e não te paga, o namorado ausente
da menina dos teus olhos e mais uma pá de gente mundo afora tá perdida e não se
entende mais. Estão todos tão ligados na filosofia do “farinha pouca, meu pirão
primeiro” que, quando precisam interagir com o outro, ficam sem jeito, as mãos
balançam inquietas na ânsia de tudo aquilo acabar, tateando o vazio na
esperança de encontrar uma saída de emergência emocional. Simplesmente não
funcionam como deveriam. Não se permitem ser gente.
Todo este desconforto é
perfeitamente compreensível, dada a natureza do homem. Ele é, essencialmente,
um ser social, e obviamente não previu os reveses que tanta evolução poderia
ensejar. Ninguém, eu digo, ninguém foi preparado pra virar refém da ilusão da individualidade. Basta olhar ao redor. Depois da internet,
nunca mais se ouviu um “eu não sei”, ou “ela me deu um fora”, por exemplo. O
que mais se observa ao redor é que há milhões e milhões de gostosões e
gostosonas irresistíveis e anônimos, com a boca espumante de certezas,
orgulhosos de sua erudição e visão globalizada de mundo, mas que são incapazes
de confrontar suas convicções com o mínimo de civilidade sem tremerem nas
bases.
Esta proteção que o ambiente virtual
oferece cobra um preço alto em troca. Seu efeito colateral mais marcante fica
evidente, sobretudo na madrugada, quando é fácil observar janelas e mais
janelas acesas nas casas e apartamentos pela cidade, todos vidrados na
verdadeira caixa de Pandora que é essa mocinha inocente chamada Internet. O
problema é que ela é uma donzela que requer absoluta atenção e não divide o seu
(escravo) amor com mais ninguém.
De tão sedutora, quase nos faz
acreditar nas nossas próprias projeções. Acolhedora, afável, tem de tudo, até coisas
boas a oferecer. Mas quase sempre perdemos o interesse em sua candura. O que
queremos desta manceba nada mais é que o seu lado mais sórdido, sujo, obscuro
e, porque não dizer, malvado. E ela nos dá. Realiza todas as nossas fantasias e
desejos mais incógnitos, engendra-nos em uma teia de aço e megabytes, e
entorpece-nos até nos reduzir ao estado de selvageria.
É por isso que atributos como cordialidade,
educação e capacidade de se fazer entender andam tão escassos. A tecnologia que
deveria unir separa sem dó, e não adianta chiar. E o homem, que sempre se adaptou
a tudo, se acostumou com o isolamento que o mata por dentro e lhe rouba a
capacidade de sentir. É por isso que o respeito e a afetividade, tão inerentes
à condição humana, estão se perdendo. É por isso que se vê tanta gente
solitária a confundir a bipolaridade com babaquice crônica. É por isso que há
gente que nem ser humano é.