sexta-feira, 29 de outubro de 2010

F.O.M.E..

Ela acorda com um sorriso de quem acabou de receber flores
Beija-me com a boca desbotada pela noite bem dormida
O que mais poderia eu querer? Dizer não?

Sinto culpa por fazê-la se sentir assim
Tão dona de mim.

A fome, enorme.
O banheiro, pequeno.
Um espasmo de humanidade,
Ou um surto de egoísmo?

Estou sozinho agora.
Sem comer nem comer
Crime e castigo
E tudo por causa de uma botija de gás. Que acabou.

terça-feira, 26 de outubro de 2010

O Cérbero de Pindorama.

Pra começo de conversa, vamos parar com essa mania besta de escrever bonito. Afinal, pra que enfeitar as “platibandas do burro”, se ninguém de fato lê o que escrevemos? É verdade, podem reparar. Eu sinceramente perdi o encanto e o deslumbre pelas letras muito arrumadinhas à custa de gumex. E sabe por quê? Porque ninguém está nem aí! E se quem lê não liga a mínima, eu é que vou ligar?

Eu assumo. Esta crônica é na verdade, um desabafo rancoroso de quem não sabe nem para onde atira e muito menos qual é o alvo de tal ódio. Queria poder dar nomes aos bois e listá-los por ordem de prioridades, mas não sei nem por onde começo. E a voz.... a voz.... essa maldita voz da consciência que me perturba e que me impele a escrever, mesmo sem um assunto na ponta da pena que o valha. Essa maldita voz que me empurra na direção do abandono, da desesperança e da solidão, meus fiéis companheiros; a mesma voz que ora me levanta nas alturas em júbilo obsceno, ora me atira às profundezas da mesquinharia.

É, você tem razão, eu sou um burro. E não me refiro ao falante da história bíblica nem o da obra de Monteiro Lobato.
Sou uma besta prestes a jogar fora uma preciosa fatia do meu tempo na confecção desta coletânea de abobrinhas, na vã tentativa de me tornar um escritor pior e assim, ter do que reclamar. Tenho comido de menos e fumado demais, sem achar graça nenhuma na vida e com a nebulosa certeza de que sou um caso perdido. Por isso é que escrevo. Se eu fosse realmente esse "cara valente" que acreditei que fosse a vida inteira, teria feito como Hemingway. Ele foi mais corajoso, não é verdade?

Como não disponho nem de uma carabina e nem de colhões para tanto, resigno-me à situação e toco a minha vidinha sem graça sem lirismos, nem conversa fiada. A vidinha de um cara que escreve e nada mais. Um frustrado que ninguém conhece, mas que teima em ser o seu anônimo íntimo. Sei, sei que é assustador e invasivo, mas o que há de se fazer? Continuar com medo? Logo da minha persona de Cérbero? Relaxe. É só uma fantasiazinha que não mete medo em ninguém. Afinal, as únicas portas que guardo são as do meu inferninho particular. Aquele que ninguém lê.