quinta-feira, 13 de maio de 2010

Tiro no pé.

Não sei se de carona na razão ou na rasura me aboleto. De tanto apanhar loucura emprestada dos outros, caí na esparrela de botar na caixa de miolos a ideia mais fixa que Corega em boca de banguelo de levar essa vidinha classe mediana ilhoa e aculturada a sério. Eu bem que fiz um esforcinho, mas o meu bucho não teve talento pra digerir essa pachequice toda.
O negócio é que aprendi que, quando se fala em produção cultural na muralha verde, que é de onde menos se espera, não sai nada mesmo. Não adianta dizer ou fazer aquilo em que se acredita e pensar que algum cacique azedo não vá meter o pau e balangar o beiço em desaprovação. Fazer e transmitir cultura nesta terra de botocudos de All-Star é coisa pra maluco ou desavisado, e ai de quem pensar o contrário.
“Ah, mas temos tantas manifestações culturais que estão em evidência”, diriam alguns... Os mesmos que ocupam lugares privilegiados ou que de alguma forma se beneficiam das manobras desastrosas e/ou mal-intencionadas das secretarias responsáveis pela organização, e por que não dizer, da devoção burra e preguiçosa ao mais do mesmo. Fala sério! Vamos diversificar, cambada! É preciso ceder para conquistar. E eu não to falando do “puder”, não. Dar passagem ao novo e verdadeiramente bom é o mais importante.
Eu, por meu turno, faço a minha parte. Sei que isso parece discurso de quem está por fora da mamata e admito que provavelmente seja isto mesmo. Reconheço solenemente a minha ruindade fonética, semântica e estilística, ao mesmo tempo em que assumo a minha inaptidão em lidar com o teor de canalhice dos que não se assumem como porqueiras e se agarram desesperados feito carcará nos bagos de quem decide os rumos do que é produzido e veiculado por aqui.
Fazer isso é mole, não vejo problema nenhum. Aliás, nem tenho a falsa pretensão de acreditar que alguém possa se comover e afogar as meninas dos olhos se, por acaso, essa minha brabeza de Coronel Ponciano traduzida para o português, com acordo ortográfico e tudo mais cair em suas mãos incautas. Eu, pelo menos, dou a cara pra bater e não ganho nada pra isso. Tem gente que ganha pra isso e dá outra coisa pra bater ao invés da cara...
É imperativo refrescar corretamente as bandas do predicado nadegal e dar lugar a quem quer usar a cabecinha fervilhante de ideias com algo que realmente valha a pena ser transmitido de uma geração à outra. Cultura é isso, amigos. Levada ao pé do Aurélio é o processo ou estado de desenvolvimento social de um grupo, um povo, uma nação, que resulta do aprimoramento de seus valores, instituições, criações e o escambau. Há de ser assim, meus caros. Caso contrário, a nossa culturinha morre de fome. Tá na hora de efetivamente se construir uma identidade cultural e artística capixaba, abafada durante tantos anos e que agora ousa em por as mangas de fora ao questionar a eficácia do binômio panela de barro/congo.
Dói-me o cocuruto saber que por aí está coalhado de gente talentosa, com vontade de fazer a diferença e ensinar a barbudos, falsos cabeças e purpurinados platicéfalos engessados pela burrocracia que a cultura salva, e mais de uma vez.
Agora, o que me derruba os cabelos de verdade é saber que ninguém vai sequer se dar ao trabalho de levar a sério essas sandices que acabo de escrever. É mais um exemplo de produção, cultural ou não, natimorto. Bom, pelo menos houve esforço. É assim mesmo, cada um mostra o que tem. Quem não tem nada de bom, mostra o que pode. Quanto a mim, só me restou mostrar a cara-de-pau e o bolso vazio.

Tratado sobre a amizade.

Somos animais que se relacionam norteados pela premissa básica da proteção que um grupo maior oferece, e esse grupo é definido não pelas qualidades individuais, mas pelo nível de fluidez e afinidade dos nossos desvios de caráter. Ou seja, o artifício desenvolvido pelo Homo Sapiens para assegurar a paz e a boa con (veniência) vivência entre seus pares nada mais é que a sua tendência a ser canalha. A começar por este que tecla.

A velhacaria impera nesse mundão de meu Deus. O engraçado é que alguns tipos de safadagem encontram coro em uma costela igualmente pilantra e, quando isso acontece, o dito adjetivo muda de mala e cuia para outro ramo lexical. O sem-vergonha passa a ser “uma figura”. Aí, tudo vira festa, e tome mais uma gelada, vanja vai, vanja vem, o infeliz canta a sua senhora, você finge que não viu pra não se aborrecer e pronto.

Da cabecinha ressentida da falta de aditivos do papai aqui escapolem considerações a respeito dos motivos que levam quem não vale a merda que o gato enterra a fazer o que faz. Quase sempre o cabra se faz valer do fato de ser o mais divertido da turma, o piadista, o bonitão ou tudo no mesmo pacote. O ponto G da questão é que o pobre coitado do certinho, aquele, o fodidinho, que anda na risca de giz da vida com um mínimo de retidão, invariavelmente se nega solenemente a aceitá-lo como mais novo melhor amigo_ por ver em seus olhos uma pá de más-intenções_ e acaba por encontrar uma pedra no caminho: o rótulo de chato.

E o “título de nobreza” pega pra valer, ainda mais se o Caxias em questão for um cara desprovido de estratégia. Para o danado, tudo no fiofó. Nada de novos amores ou novos ódios, nada de ideias frescas com a vocação inata pra fazer o babaca mais próximo arreganhar os dentes. Pra poder brigar com o pé-de-malvadeza em questão, é preciso muito conhecimento acerca da personalidade das demais “figuras” com quem você e o palhaço dividem a mesa no boteco, a alcova ou o papo de uma sala de espera qualquer. Pra começo de conversa, é imperativo fazer um exame de consciência e se fazer a seguinte pergunta: quais são os critérios usados na escolha dos seus amigos?

E eu respondo que se você se pautou pela simpatia ou pela empatia, se lascou, meu caro. O que realmente solidifica uma amizade, seja ela verdadeira ou não, não é exatamente uma ou outra virtude, que isso até uma zebra está cheia. O que conta de verdade é o quanto você é capaz de suportar o teor de canalhice do outro. Seja por conveniência, solidão ou, principalmente falta do que fazer. Não importa o motivo, desde que ao lado de outro igualmente sem-vergonha você seja a maioria. É isso ou pedir penico e viver só. Mas sejamos sinceros: Há penico pra todo mundo?