quinta-feira, 13 de maio de 2010

Tratado sobre a amizade.

Somos animais que se relacionam norteados pela premissa básica da proteção que um grupo maior oferece, e esse grupo é definido não pelas qualidades individuais, mas pelo nível de fluidez e afinidade dos nossos desvios de caráter. Ou seja, o artifício desenvolvido pelo Homo Sapiens para assegurar a paz e a boa con (veniência) vivência entre seus pares nada mais é que a sua tendência a ser canalha. A começar por este que tecla.

A velhacaria impera nesse mundão de meu Deus. O engraçado é que alguns tipos de safadagem encontram coro em uma costela igualmente pilantra e, quando isso acontece, o dito adjetivo muda de mala e cuia para outro ramo lexical. O sem-vergonha passa a ser “uma figura”. Aí, tudo vira festa, e tome mais uma gelada, vanja vai, vanja vem, o infeliz canta a sua senhora, você finge que não viu pra não se aborrecer e pronto.

Da cabecinha ressentida da falta de aditivos do papai aqui escapolem considerações a respeito dos motivos que levam quem não vale a merda que o gato enterra a fazer o que faz. Quase sempre o cabra se faz valer do fato de ser o mais divertido da turma, o piadista, o bonitão ou tudo no mesmo pacote. O ponto G da questão é que o pobre coitado do certinho, aquele, o fodidinho, que anda na risca de giz da vida com um mínimo de retidão, invariavelmente se nega solenemente a aceitá-lo como mais novo melhor amigo_ por ver em seus olhos uma pá de más-intenções_ e acaba por encontrar uma pedra no caminho: o rótulo de chato.

E o “título de nobreza” pega pra valer, ainda mais se o Caxias em questão for um cara desprovido de estratégia. Para o danado, tudo no fiofó. Nada de novos amores ou novos ódios, nada de ideias frescas com a vocação inata pra fazer o babaca mais próximo arreganhar os dentes. Pra poder brigar com o pé-de-malvadeza em questão, é preciso muito conhecimento acerca da personalidade das demais “figuras” com quem você e o palhaço dividem a mesa no boteco, a alcova ou o papo de uma sala de espera qualquer. Pra começo de conversa, é imperativo fazer um exame de consciência e se fazer a seguinte pergunta: quais são os critérios usados na escolha dos seus amigos?

E eu respondo que se você se pautou pela simpatia ou pela empatia, se lascou, meu caro. O que realmente solidifica uma amizade, seja ela verdadeira ou não, não é exatamente uma ou outra virtude, que isso até uma zebra está cheia. O que conta de verdade é o quanto você é capaz de suportar o teor de canalhice do outro. Seja por conveniência, solidão ou, principalmente falta do que fazer. Não importa o motivo, desde que ao lado de outro igualmente sem-vergonha você seja a maioria. É isso ou pedir penico e viver só. Mas sejamos sinceros: Há penico pra todo mundo?

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